Dinho Vasconcelos

"Con tu puedo y con mi quiero / Vamos juntos compañero" Mário Benedetti.

segunda-feira, maio 11, 2009

Leite derramado, de Chico Buarque

O livro Leite derramado de Chico Buarque caracteriza-se por ser um livro fácil.
As memórias obsessivas do protagonista, um burguês centenário de família quatrocentona, têm como possíveis modelos no mínimo dois livros bem distintos: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e A Obscena Senhora D, de Hilda Hilst. Há muitos elementos intertextuais no que diz respeito aos recursos narrativos que o autor utiliza que apontam para essas obras.
Fica evidente como o autor vai embaralhando as memórias do velho, a instauração da dúvida e as lacunas criadas, o ponto onde quer chegar. É pouco sutil e chega a ser óbvio em alguns momentos.
Não podemos dizer que é um livro ruim, mas que fique claro que Chico Buarque não é um grande escritor, é mediano. Joga bem com as palavras, mas não tem a força dos grandes romancistas da nossa literatura. A mimetização dos grandes mestres fica clara, como por exemplo quando põe na boca do protagonista a seguinte frase:
"A curva é o gesto de um rio."
Quer frase mais Roseana que esta? Não tem.
Chico Buarque foi um excelente compositor. "Foi" porque não compõe mais com a mesma maestria de antes. Como escritor de romances, é fraco. Não se pode ganhar todas, tampouco se deve chorar pelo leite derramado.