Dinho Vasconcelos

"Con tu puedo y con mi quiero / Vamos juntos compañero" Mário Benedetti.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Correspondência amorosa

Depois de anos me perguntando sobre os motivos da não-correspondência amorosa, parei de formular teorias. Comecei a observar. Só observar (é mania de muitos o elaborar teorias sem base na observação dos fenômenos). Percebi algumas coisas óbvias e intrigantes, estimulantes e desanimadoras.

Primeiramente há tipos e mais tipos de pessoas (óbvio). Para alguns, o amor não existe; para outros, é o fundamento da vida. No meio dos dois extremos há várias matizes que pendem ora para um lado, ora para o outro, dependendo das experiências vividas através das relações amorosas. Fiquei apenas nos dois extremos. Necessidade minha de síntese.

Observei os que não acreditam no amor. Em geral são pessoas solitárias, às vezes anti-sociais e com problemas de relacionamento familiar. Cultivam um certo individualismo e o apego material, e geralmente não têm tempo pra nada nem ninguém, estão sempre de agenda lotada: trabalho, faculdade, malhação, dança, até piano! Acabam não conseguindo dar conta de tudo.
Já os adeptos do amor, os que nele acreditam, frequentemente estão acompanhados, são muito sociáveis e geralmente têm uma ótima relação com seus familiares. Doam-se o tempo todo, são desprendidos materialmente e sempre arrumam tempo para as atividades e para as pessoas. Conseguem tempo para tudo e mais um pouco.


Curioso é notar que nem sempre esses dois tipos antagônicos se dão conta de sua condição. Desconhecem, muitas vezes, a si mesmos e ao outro, por conseqüência. Estabelecem relações amorosas desequilibradas e quando sofrem uma desilusão não a entendem, julgando-se então os azarões do amor (intrigante, mas também óbvio).

A observação trouxe o seguinte: no que diz respeito ao óbvio dos antagonismos, quanto mais se ama, mais se tem amor pra dar. O amor, bem entendido pela sabedoria popular proverbial, é feito buraco de terra: quanto mais se tira dele, maior fica. De modo que os que não distribuem amor ficam entalados de terra até a garganta: não conseguem amar.

No que tange ao problema da não-correspondência amorosa, bem pode ser um equívoco que decorre, em geral, de duas necessidades não supridas: é preciso, em primeiro, o auto-conhecimento, conhecer a nossa própria natureza; em segundo, é importante conhecer o outro, o objeto do nosso amor. O produto dessa soma de conhecimentos nem sempre nos é favorável. Pode ser estimulante ou desanimador.

E será ainda mais complicado para quem pende ora para um, ora para outro extremo. Para quem está no meio do caminho: é tentar se harmonizar consigo, e depois com o ser amado. Não se trata de maniqueísmo bobo, mas de adaptação. Verdade é que tem muita tampa de chaleira procurando panela de pressão.